segunda-feira, 25 de março de 2013

Quanto vale uma vida?

"E aí aparece outro porém: as pessoas de bem não poderão ir mais aos campos de futebol?"

Publicado na página de opinião da edição 52 do Jornal Lince (clique e confira o jornal completo).


Mais uma vida perdida em um campo de futebol e a sensação de impotência da população. A notícia que chocou a todos neste mês de fevereiro foi a morte do garoto boliviano Kelvin Beltrán Estrada. O jovem de 14 anos foi atingido por um sinalizador naval atirado por “torcedores” (com todas as aspas que quiser usar) do Corinthians, presentes em Oruro (Bolívia) para o jogo entre o clube paulista e o San José, equipe local, pela Taça Libertadores. Utilizado como item de segurança em navegações, o objeto penetrou pelo olho direito e atravessou o crânio do adolescente.

Doze pessoas foram presas preventivamente pelas autoridades bolivianas e passaram por exames para comprovar a participação ou não no crime. Alguns deles foram flagrados portando outros sinalizadores do mesmo tipo. Já a punição inicial encontrada pela Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, foi retirar do Corinthians a possibilidade de receber seus torcedores nos jogos em sua casa, o Pacaembu, pela Libertadores. A decisão valeu por uma partida. Agora, a torcida corintiana não poderá comparecer aos jogos do clube longe de São Paulo. Acho válida a decisão, que pode ser encarada até como leve, pois chegou a ser levantada a possibilidade da exclusão do clube do torneio.

Várias discussões foram abertas após o fato. A maioria dos meios de comunicação, como sempre, buscam um culpado. Um problema de tamanha importância não pode ser jogado nas costas de uma única pessoa. Não foi um acidente (até porque, segundo especialistas, esse tipo de sinalizador não dispara acidentalmente). Está errado quem bancou e autorizou a viagem dos cidadãos para a Bolívia, quem vendeu o instrumento “assassino”, quem autorizou a entrada no estádio e, obviamente, o autor do disparo.

E aí aparece outro porém: as pessoas de bem não poderão ir mais aos campos de futebol? É uma questão muito ampla e qualquer crítica à difícil decisão me parece injusta. A confederação tinha que tomar alguma decisão e, a meu ver, acertou.

A conclusão tirada disso tudo é que está cada dia mais difícil manter a mesma vontade de torcer por seu clube, ir empolgado para o campo de futebol, esquecer os problemas cotidianos e fazer dos 90 minutos um momento de felicidade.

Na maioria das vezes que brasileiros vão jogar lá fora, coisas parecidas acontecem e passam impunes. Cansei-me de ver estádios depredados por torcedores locais após derrotas, descontadas nos adversários. Pedras, pedaços de madeira, pilhas e outras “coisas” foram transformadas em armas por várias oportunidades. É um absurdo o que nossos times sofrem costumeiramente nos países vizinhos, o que não é motivo para os tais “torcedores” fazerem o mesmo e não acontecer nada.

Como não é possível modificar o passado e salvar as vidas perdidas, que esse cenário mude daqui para frente. Que o poder público e a “dona” Conmebol resolvam trabalhar, para dar tranquilidade ao torcedor de verdade e proporcionar o fortalecimento e maior organização de nossa liga continental, ainda a quilômetros de distância dos grandes torneios do futebol internacional.

Na época, o Corinthians se manifestou e disse, em outras palavras, que caso não consiguisse uma decisão a seu favor, sairia da Libertadores. Que saia. A mim e ao torneio não faria falta. Lamentável a postura da imensa instituição e seus comandantes, preocupados única e exclusivamente com o prejuízo financeiro que levariam.

Chega de tragédia, amadorismo e desrespeito. Uma vida vale muito mais do que a cega paixão por futebol.

Ah, diz a Gaviões da Fiel que o autor do disparo é menor de idade. Acho que já vi esse filme antes...

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